21.12.13

Penamacor 1978 / Penamacor 2013

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Notícia de um telejornal emitido em 1978.
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A estrada referida na notícia foi construída (há 22 anos), e a crença lusa de que é direccionando o investimento para a construção de estradas que se trava o processo de despovoamento perdura ainda entre nós, 35 anos depois, contra todas as evidências e com os brilhantes resultados que se conhecem.

Nesta peça jornalística de 1978, era destacado o envelhecimento da população de Penamacor. De acordo com os dados dos censos, em 1981 havia, em Penamacor, 142 idosos (65 ou mais anos) para cada 100 jovens (menos de 15 anos). Nos últimos 30 anos, o Índice de Envelhecimento subiu de 142 para 598, ou seja, em 2011 já havia 598 idosos por cada 100 jovens. Não há outro concelho em Portugal com um Índice de Envelhecimento tão elevado (nem na remota ilha do Corvo). Apenas 18 anos antes desta notícia da RTP, Penamacor era uma terra jovem: em 1960, havia apenas 35 idosos por cada 100 jovens. Este gráfico mostra a impressionante evolução do Índice de Envelhecimento de Penamacor entre 1960 e 2011:
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(Os resultados dos censos de 2011 indicam que Penamacor é um dos três municípios portugueses com maior percentagem de casas onde vivem idosos sozinhos.)

A principal causa desta evolução foi a emigração / migração para as cidades, a partir de meados da década de 50. O concelho de Penamacor tinha perto de 19 000 habitantes em 1950; em 1981 (30 anos depois), já tinha perdido metade da população (a maior parte até ao início dos anos 70); em 2011, Penamacor tinha uma população equivalente apenas a 29,6% daquela que tinha em 1950.
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As estimativas demográficas para 2013 vão revelar que o número de habitantes terá descido este ano ao nível de 1801, e daqui a um ano deverá estar já a níveis do século XVIII.

A peça jornalística de 1978 indica, incorretamente, que a vila de Penamacor tinha cerca de 4000 habitantes. Os dados demográficos indicam que Penamacor teve cerca de 4000 habitantes em 1950, mas em 1970 já só eram pouco mais de 2000, tendo a população da vila estabilizado entre 1970 e 1981 (havia mais 23 residentes em 1981, por comparação com 1970).
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Como se percebe comparando este gráfico com o anterior, a queda populacional da vila foi, em proporção, menor do que a do concelho, confirmando a tendência das últimas décadas, de alguma migração das aldeias e das habitações rurais para as sedes de concelho. Em 1950, 22% da população do concelho vivia na vila; em 2011, essa percentagem era de 28%. Em todo o caso, desde os anos 80, a vila tem perdido continuamente habitantes, que em 2011 já só eram pouco mais de 1500 - o equivalente à população de uma grande aldeia. Hoje, Penamacor não teria população suficiente para ser elevada à categoria de vila, se não a tivesse já.

(A população de Valverde del Fresno - a vila do outro lado da fronteira referida na peça jornalística - também tem vindo a diminuir, mas a um ritmo muito menor. Nos últimos 20 anos, o município de Valverde del Fresno perdeu 368 habitantes; Penamacor perdeu 2435. Mesmo corrigida a diferente dimensão populacional dos dois municípios, o ritmo da quebra demográfica em Penamacor mais do que duplica o de Valverde del Fresno.)

À época da peça jornalística, a maior parte da população de Penamacor estava em idade ativa; atualmente, a maior parte dos habitantes não integra a população ativa. A maioria dos que a integram tem mais de 40 anos. A taxa de desemprego é elevada (um pouco mais baixa do que a do país). Penamacor tem o Índice de Sustentabilidade* mais baixo de Portugal: 1,1 (a nível nacional, o índice é de 3,4).

(*relação entre a população em idade ativa e a população idosa)

Só 10% daqueles que residem em Penamacor têm o ensino secundário (a nível nacional são 17%), só 5,7% têm o ensino superior (são 15,4% a nível nacional) e a taxa de analfabetismo ultrapassa os 20% (é de 5% no país).

As crianças são poucas. Famílias numerosas são uma raridade: em 2011, havia, em todo o concelho, 1 núcleo familiar com 7 filhos, 1 com 6 filhos, 2 com 4 filhos e 11 com 3 filhos. Grupo mais numeroso: o dos núcleos familiares sem filhos.

Não deve ser fácil viver numa terra pequena onde todas as semanas há funerais, mas só nasce uma criança de dois em dois meses. Era assim na vila de Penamacor em 2011 (de acordo com os dados dos censos), e uma proporção semelhante à da vila ocorre no concelho: por cada criança que nasce, fazem-se 8 funerais.   

Seriam precisos muitos anos para travar o processo de despovoamento, mesmo que existisse já hoje, no país, uma política séria com vista ao repovoamento do interior. Mas não existe. A população de Penamacor vai inevitavelmente continuar a diminuir. Se nada se fizer, provavelmente o processo tornar-se-á irreversível.


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Dedicado aos dois ou três resistentes leitores deste blogue com ligação a Penamacor e que ao fim de dois anos ainda insistem em vir aqui de vez em quando.
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No próximo artigo, algo mais positivo sobre Penamacor.
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