Quando estava prestes a ser
pai, vários amigos, já com experiência de paternidade, contaram-me histórias
inacreditáveis de como eram ignorados pelos pediatras dos seus filhos, nas
consultas de pediatria.
«Estás ali e é como se não
existisses. Não te cumprimenta, não te dirige a palavra, nem sequer olha para
ti. Só reconhece a existência da mãe».
Não era uma questão de género:
acontecia com pediatras do sexo feminino e do sexo masculino.
Um desses amigos contou que um
dia, finalmente, após muitas consultas, passou a saber que existia para o
pediatra, quando este, inesperadamente, lhe dirigiu a palavra.
Pensei para com os meus botões
que aquilo que me estavam a contar seria talvez uma caricatura, com o exagero
próprio das caricaturas. Há casos em que as caricaturas têm mais graça.
Mas logo que entrei no mundo da
paternidade vivi, perplexo, a mesma história. Primeiro, na maternidade, onde
estive todos os dias, durante quase um mês após o parto.
Depois, nas consultas de pediatria (com a mesma pediatra que, no período da incubadora, salvou a vida de um dos meus bebés). Nem queria acreditar: mesmo que eu estivesse ao lado da mãe, a pediatra nem sequer me cumprimentava e só falava com a mãe. Como se eu me tivesse tornado invisível. Uma ou outra vez cheguei a iludir-me. Eu cumprimentava à entrada da consulta
Depois, nas consultas de pediatria (com a mesma pediatra que, no período da incubadora, salvou a vida de um dos meus bebés). Nem queria acreditar: mesmo que eu estivesse ao lado da mãe, a pediatra nem sequer me cumprimentava e só falava com a mãe. Como se eu me tivesse tornado invisível. Uma ou outra vez cheguei a iludir-me. Eu cumprimentava à entrada da consulta
“bom dia”
E a seguir ouvia a pediatra,
toda sorridente
“olá bom dia, como tem
passado”?
Mas estava a dirigir-se à mãe,
não a mim.
Um dia, à entrada de mais uma
consulta, a pediatra cumprimentou-me finalmente. E passou a fazê-lo desde
então (e durante as consultas até responde a perguntas minhas). A diferença de tratamento continua, em todo o caso, a ser abissal. A mãe
dos meus filhos é cumprimentada efusivamente e com beijinhos na cara. A mim a
pediatra estende a mão, meio a despachar, e, geralmente, enquanto me estende a
mão está a sorrir, mas não para mim, sorri para a mãe dos meus filhos.
Estende-me a mão e já está a olhar para o lado, para a mãe dos meus bebés. Um
dia juro que a ouvi dizer um
“olá”
enquanto me estendia a mão, mas fiquei na dúvida se seria para mim.
Gostei, ainda assim, de ter
sido promovido: deixei de ser invisível, passei a ser adereço. Qualquer dia,
quem sabe, a pediatra referir-se-á a mim como o pai dos meus filhos.
Até meados do século passado, o
pai praticamente não existia no mundo da criança, nos seus primeiros anos de
vida. O pai era o sustento da família, e quase se esgotava aí o seu papel.
Mas os médicos pediatras – logo
os pediatras! – estarão perfeitamente conscientes de que, entretanto, a
realidade mudou bastante.
Continuo, por isso, a tentar
perceber a razão de ser desta atitude repelente dos pediatras (de alguns deles,
pelo menos, não posso, obviamente, generalizar). É para mim um dos mistérios da
paternidade.
SPACE
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